Por José Bomfim, Brown*
O ano era 1977. A Residência de Estudantes de Conquista (REC) era na Rua Inácio Tosta, um casarão antigo vizinho ao Touring Club, no bairro Nazaré, em Salvador. Apresentado a Afrânio Leite Garcez, recebi o convite para, quando fôssemos à nossa cidade, visitar a casa dele, onde me mostraria sua coleção de discos de alta qualidade. Convite aceito, na primeira oportunidade em solo conquistense fui à bela casa situada na Rua João Pessoa, antiga Rua da Boiada (que ostentava suas charmosas árvores dividindo as pistas de subida e descida de veículos).
Foi uma visita que originou a mudança de rumo de algumas pessoas, eu incluído.
Além da excelente coleção de vinil, conheci as irmãs e o irmão de Afrânio, sua mãe Dona Zelita Meira Leite (esposa do Sr. Lili Garcez). Como disse acima, mudanças de rumo ocorreram a partir desse encontro. Nesse mesmo ano, eu e Ivone (uma das irmãs de Afrânio) começamos a namorar e nos casamos algum tempo depois. Fernando Zamilute, amigo e colega também da REC, casou-se com Alba (também irmã de Afrânio).
Nos bate-papos daquelas tardes nos finais dos anos 70 e até meados dos 80, tudo era muito interessante na sala vizinha à cozinha da casa e no quintal-jardim.
Eu ouvia atentamente Dona Zelita, que me descortinou uma Conquista intelectual que eu não fazia ideia. Ela me explicou didaticamente o gnosticismo e o agnosticismo, a teosofia refundada por Helena Blavatsky, e os autores repudiados por mentes puramente cartesianas.
Atenta ao meu olhar para um quadro na parede da referida sala próxima à cozinha, me explicava, bem humorada, que se tratava de uma fuga romântica: um tuaregue levava sua amada no lombo de um cavalo em desabalada corrida. Este quadro me hipnotizava. O deserto. Os tuaregues. E as explicações de Dona Zelita dando vida a cada símbolo da pintura.
Posso dizer com toda segurança que minha formação intelectual ganhou velocidade e amplitude, e maior interesse na pesquisa a partir das aulas que ela me deu.
No dia 2 de agosto de 2023, após padecer por alguns meses, Dona Zelita partiu para outra dimensão, a 11 dias de completar 92 anos neste planeta.
Meus sinceros agradecimentos por aqueles diálogos que jamais se perderão no tempo.
Minha solidariedade aos filhos (Afrânio e Aloísio, mais conhecido por Lui) e as filhas (Cesarina, Ivone, Alba, Rita, Lizandre e Erbene) de Dona Zelita nesse momento de dor e saudade que a morte de um ente querido causa.
*O Brown fundou e administra esse blog desde outubro de 2008
Eu me lembro da D. Zelita. Austera e circunspecta. Seus passos e olheres irradiavam respeito. Eu jamais imaginaria que ela seria sogra do birrento Fernandinho e do caboclinho da Travessa do Alecrim. E o caboclinho, hoje crescido, fez um ode às matriarcas com o belo texto acima. D. Zelita é mais um galho da árvore frondosa, fresca , bela e foda da cidade que tem Vitória e Conquista no mesmo nome.
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Obrigada querido e estimado Brown!
Linda homenagem e belo relato, com riquezas de detalhes que nos faz retroceder ao tempo e relembrar vivências de inesquecível valor emocional!!!!
Nossa querida mãe se foi ,mas os seus ensinamentos, sabedoria e amor dedicado a todos nós permanecerá para sempre em nossos corações .
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Obrigado, querida Vone! Obrigado por tudo. Dona Zelita foi uma mulher sábia, muito além do seu tempo, você bem o diz. Tenho orgulho de ter sido atento aos ensinamentos dela. E sinto-me privilegiado de ter histórias de vivências reais que permanecerão para sempre em nossos corações e mentes.
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Linda homenagem, como sempre vc muito atento as lembranças e detalhes. D. Zelita , lembro muito quando minhas filhas Luciana e Luciene passavam tardes fazendo bagunça na casa junto com Ila, ela só olhando sem reclamar. Dessa família muitos amigos , principalmente Cesarina, a querida Cesar que se tornou minha comadre. Que Nosso Mestre Jesus abençoe toda família e seus mensageiros a receba em seu novo lar.
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Ótimas lembranças, minha irmã Glória.
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Bomfim, obrigado é pouco por demonstrar tanto carinho por minha inesquecível mãe e, em contrapartida, nós filhos dela. Logo cedo, antes de ler o seu texto, comentava com Ivone sobre a saudade que estava sentindo dela e hoje mais do que qualquer outro dia, ainda que sinto saudades todos os dias , todas as horas, todos os instantes… Seu comentário muito me confortou!! Ela era exatamente aquilo tudo! Tê-lo como amigo de vida nos faz muito bem.
Meu abraço pra você!!?
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Alba, é um conforto para mim saber que nossa amizade atravessou décadas. E Dona Zelita foi o fio condutor de tudo isso. Fico feliz em homenageá-la, ainda que seja uma singela homenagem para uma mulher tão sábia.
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Vi
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Que texto lindo, Brown. Admiro a importância que vc dá ao reconhecimento de verdadeiras amizades. Força para a família e amigos
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Obrigado, amiga Moniquinha, pelas palavras generosas e por compartilhar dessa solidariedade aos entes queridos de Dona Zelita.
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Obrigada, Bonfim, por compartilhar conosco as suas lembranças sobre minha mãe! Ela viveu sempre a frente do seu tempo e, das lições ensinadas aos seus filhos, as maiores foram: respeito, consideração, compaixão e amor por nossos semelhantes.
Acreditamos na eternidade da alma e que ela cumpriu o seu tempo com maestria porém, é muito doloroso sabermos que o seu corpo não aguentou o peso dos anos e, como temos que cumprir a nossa sina, conforme as lições apreendidas, nos fortalecemos na união, nas lembranças e ensinamentos que Zelita nos deixou.
Gratidão, sempre!
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Obrigado, Rita. Serei eternamente grato a Dona Zelita e a todos os seus familiares.
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Creio que NINGUÉM fica indiferente a perda de uma mãe, para mim é desolador, rasgante, ainda que esteja conformada e grata a Deus por ter me abençoando com essa mãe e a ela, por ser um exemplo de mulher, companheira, cidadã e MÃE…. tão sabia, forte, acolhedora, provedora….tantos adjetivos….tantas histórias…tanto exemplo…. não tenho dúvidas que a saudade será eterna e terei que acostumar com esse sentimento, mas TB vou procurar ser uma pessoa melhor, seguir o exemplo e ensinamentos dela com mais afinco.
Você Bonfim faz parte da nossa vida e de uma parte muito boa e importante para mim. Obrigada por essa linda homenagem a minha mãezinha.
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Bene, eu que sou grato a Dona Zelita e a toda a família.
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Lindo demais, Zeca. Lembranças, histórias e memórias que guardamos de D. Zelita. É tudo muito emocionante. Foi marcante em nossas vidas cada momento na Rua João Pessoa, sempre com o acolhimento, carinho e boas conversas da grande matriarca. Ficam as saudades, “seu Kal”, como ela sempre me comprimentava.
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Bem lembrado.
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Que Bela homenagem para minha doce e meiga MÃE. Gratidão
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Eu que agradeço, Lizandre.
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Que bonito, Bomfim!
O Tuaregue, de fato, não passa despercebido a olhares atentos, ainda que não seja objetivado. Em algum instante os olhos que passarem por aquela pequena sala o vislumbrarão. O vislumbre poderá ser acidental, mas o o retorno do olhar conferente, esse, será inevitável.
Assim, e do mesmo modo, não passaria despercebida a figura da querida Dona Zelita. Era quase que uma figura monárquica, senhora e única titular daquele pequeno reinado, no qual e do qual cedia pouso ao Tuaregue.
Imperturbáveis personagens daquele cenário, dia após dia, a se fitarem ainda que casualmente, como que a conferir existência um ao outro.
Nós, os observadores, damos testemunho de que assim o foi, e de que assim será, eternamente em nossas memórias.
Abraços e obrigado pela homenagem.
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Obrigado, Fernando, por abrilhantar a homenagem.
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Eu a conheci, D. Zelita. Mulher de coração grande. Aliás, uma família bonita que tive a satisfação de conhecer a todos.
Meus profundos sentimentos.
Foi-se apenas o corpo físico. O espírito este vive eternamente.
Abraços a todos.
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Obrigado, Beto, por colaborar para essa homenagem a Dona Zelita e aos seus entes queridos.
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Bene, eu sou grato a Dona Zelita e a toda a família.
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