Valter Freire em dose dupla sobre a experiência em participar de um grupo de 12 pessoas que gostam de escrever. Há um sorteio e todos participam. O sorteado escolhe um tema e outros desenvolvem. Duas pequenas crônicas desse excelente cronista dão mais luz ao Blog do Brown. Confira:
A Ferramenta
Quando fui escolhido eu fiquei pensando, pensando. Olhei ao meu redor. A televisão em frente presa na madeira do rack. O relógio marcou e cuco cantou. Os bonecos talhados na madeira vindo de vários locais. Os quadros, a mesa, as cadeiras e o sofá onde estou sentado. E o celular onde estava lendo. E, Eureka! Para que tudo isto esteja pronto precisou de um homem, de máquina e do trabalho. Mas nada seria feito se não fosse uma ferramenta. Em tudo que citei acima tem um parafuso. Para fixar o parafuso é preciso uma chave de fenda ou chave Phillips. A ferramenta é talvez a mais antiga invenção da humanidade. Foi a mola propulsora do nosso desenvolvimento. Sem aquele parafuso a aeronave não voaria, o neurocirurgião não iria até o cérebro do paciente, a mãe não empurraria o bebê e o fogão não cozinharia nossa refeição. E eu não estaria aqui escrevendo. Que seria de tudo sem a ferramenta. A ferramenta substantivo é imprescindível como também é imprescindível a ferramenta adjetiva.
A Chave
Eu cursava o segundo ano do primário (vocês, obviamente, sabem o que é o primário) e ganhei o livro “A chave do tamanho”, do maravilhoso Monteiro Lobato. Não li, “devorei” o livro. Fiquei encantado como uma chave pode mudar ou consertar muita coisa. E ficava pensando na simbologia da chave. E nos gibis havia algo que despertava minha curiosidade, pois na fortaleza do Superman no Polo Norte havia uma enorme chave na entrada. Chave do poder? Pode ser porque quando minha mãe ralhava e falava “vou passar a chave” era sinal que não poderia brincar ou sair para a rua. E também o Papai Noel recebia a chave da cidade iniciando o período do Natal. E isso era poder. E outro que recebe e autoriza a alegria por todo canto é o rei Momo que também recebe a chave da cidade. Será que só os gordos têm direito a tal honraria? Mas o mais importante dos portadores de chave é São Pedro que tem a chave da porta do céu.
Existem muitos simbolismos na utilização desse pequeno pedaço de aço ou ferro. A chave da sabedoria, a chave da inteligência, a chave do sofrimento, a chave da cadeia, chave do cemitério, a chave do cofre, a chave da sedução e a chave de ouro igual a que o Palmeiras fechou o campeonato brasileiro deste ano (e o meu Flamengo não recebeu nenhuma…. sniff). Serve também para punir o marido que fica na farra e implora lá da rua: “joga a chave meu amor”. E o amor não joga!
A chave pode abrir ou fechar portas. Portas físicas ou portas simbólicas. Cabe a nós escolher.
Que vocês tenham o domínio das chaves!
Bem escritas e interessantes as duas crônicas. Gosto muito das crônicas do Valter Freire.
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Muito bom, como sempre. Comentei
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Rapaz, tava inspirado…muito bom. Aliás, dizer que texto do Valter está bom é redundância, são sempre maravilhosos. Amei
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Obrigado, Monica. Incentivo é fundamental.
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EXCELENTE!!! ________________________________
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