O BANCO DE PEDRA

Nem tudo é ruim e triste nesse período de pandemia da Covid-19. Uma coisa muito boa é o livro O Banco de Pedra, de autoria de Aurélio Ricardo Filho.

Apresentado a mim – virtualmente – pelo jornalista Patrício Ribeiro Alves de Oliveira – para meu orgulho, meu sobrinho -, entrevistei Aurélio por e-mail. Os tópicos da entrevista estão mais abaixo.

O Banco de Pedra é como um diário de Vincent van Gogh no período em que o pintor pós-impressionista holandês esteve internado no sanatório de Saint-Remy, na França. Aurélio organizou esse diário em 61 textos, aos quais denominou de fotogramas.

Aurélio nasceu em Ubaíra (BA), ainda criança foi para Minas Gerais, retornou à Bahia, residindo em Caculé, depois Salvador e Vitória da Conquista, terra que adotou de coração.

Mestre em Literatura e Diversidade Cultural, pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Aurélio é também especialista em Teoria e História Literária; graduado em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); e bacharel em Direito pela Faculdade Independente do Nordeste (Fainor).

Ele afirma que atua especialmente em literatura modernista, produção e crítica literária e em língua portuguesa. Discute a relação entre literatura, filosofia e sociedade, História e Memória, com ênfase sobre o intelectual, o sujeito histórico e filosofia existencialista na obra de Graciliano Ramos. Também atua como professor, assessor e consultor literário.

Antes de O Banco de Pedra, Aurélio escreveu o livro Em torno de um silêncio compreendido, que foi vencedor do Prêmio Zélia Saldanha, instituído pela UESB. Também é autor de Em nome da PazAntigamente

Atualmente, está trabalhando nos livros: Os comedores de Batatas (crítica social); Evocações a Alberto Caeiro (segundo ele, mais filosófico); e reescrevendo um livro que trabalha com a memória do município de Caculé. “Cito a casa onde seu Chico Formigli Rebouças morou”, afirma.

Clicando no nome destacado, o leitor verá que Chico Rebouças é citado em outra postagem nesse blog.

Vamos então aos tópicos da entrevista:

Sobre o lançamento do livro

Não realizamos lançamentos – nem mesmo de forma virtual – preferimos usar a estratégia da divulgação direta, pessoal, estratégica. A pandemia nos deixou o custo de não se ajuntar para eventos, além disso, mesmo que fosse possível, sei dos custos de um evento como esse. Portanto, não houve lançamento. 

A construção do livro 

Logo no final da minha graduação em letras, iniciei um curso de pós-graduação em teoria literária. Já havia iniciado estudos, mesmo antes da graduação, sobre o fazer poético. Até que ponto o discurso poético deveria ficar adstrito, preso, limitado a determinados preceitos e preconceitos. Eu desejava dar uma nova conceituação ao discurso poético – com base na forma e conteúdo – sem que com isso me visse limitado a nenhuma escola, nem formalismos. Lido com a poesia há muito tempo, desde os meus 8 anos, e algumas coisas nela sempre me incomodaram, como sempre me incomodou a forma como ela era passada, o que, ao me ver, distanciava de potenciais leitores da poesia. Assim fui passo a passo elaborando um projeto gráfico e editorial em minha mente. Primeiro a parte teórica, estudos, elaboração do cenário e a representatividade de algumas telas de Van Gogh em consonância com os meus textos/ou vice-versa.  Fiz todo o projeto editorial, aspectos de diagramação, idealização de capa, registro, busca de gráficas. Primeiro o arcabouço teórico, depois a idealização da temática, por fim, a construção do texto [emendarei o meu pensamento aqui, respondendo à pergunta seguinte].

O que o levou a adotar esse tema?  

Eu havia ganhado um quebra-cabeça com o Banco de Pedra, de Vincent van Gogh. Sem o saber, me pus a montá-lo, e, ao final, percebi que se tratava de um quadro do gênio holandês. Foram alguns instantes de contemplação, e retornos a ele, para ir me dando conta de que ali se expunha algo bem mais profundo que a representação de um quadro. Comecei a trabalhar a ideia a partir da perspectiva de uma pseudo visitação do artista ao asilo de Saint-Remy e sua interlocução com uma personagem invisível e inominável, talvez fruto da sua imaginação. A partir daí, fui elaborando as situações, – isso ocorreu por volta de 2010 – passei para uma fase de estudos da vida e obra de Van Gogh, questionamentos sobre o discurso poético, estética da recepção, desenvolvimento de um projeto gráfico que pudesse despertar o gosto pela leitura – de poesia, sobretudo – sem que ficasse preso a amarras que distanciam o leitor do livro – [em minhas disciplinas da pós-graduação havia uma que falava sobre prática de leitura, lembro-me de aspectos trazidos por Roger Cartier, nesse sentido]. Pensei num projeto gráfico que estimulasse à leitura [papel, diagramação, capa, estrutura textual, formato e tamanho], no que tange ao aspecto físico, e profundidade estilística analítica, no que tange ao aspecto conceitual da obra.  Como um pintor, eu poderia aplicar as minhas impressões sobre a obra de arte poética a partir do discurso de uma personagem, algo que fosse sutil e profundo, só visto por acurada observação, mas que ao mesmo tempo atraísse a atenção de uma multiplicidade de leitores [estética da recepção] um livro que não se limitasse em si mesmo [as formas híbridas, ditas por Luiz Costa Lima]. Após o período de estudos, sentei-me a escrever o livro. Ele é muito original, haja vista não haver outra versão além da que foi publicada. Da forma que foi pensada, saiu, por eu achar que o livro era bastante sólido. Destaco atenção para o quadragésimo oitavo fotograma, no qual há uma narrativa psíquica sem que haja um verbo ou adjetivo, apenas substantivos – coisa que julgo raro na literatura nacional. Enfim, era essa a ideia básica. Elaboração de uma nova proposta e conceito do discurso poético. 

Sobre patrocínio  

Não houve patrocínio direto. O projeto estava engavetado há dez anos. No início desse ano, eu havia começado a assessorar novos escritores. Eu estava com alguns livros sem condições financeiras para publicá-los, havia recebido propostas para publicar a minha dissertação [quase tese] sobre o intelectual e o sujeito histórico; não tinha recursos, da mesma forma, não tinha para os demais. No mês de março deste ano, sonhei que um desses autores, a quem assessorava, estava sentado numa grande mesa, e participávamos de um grande banquete. Dois dias depois, recebi dele uma benção financeira para que eu alavancasse os meus projetos, não sabia ele que eu havia sonhado, orado, buscado e Deus estava a fazê-lo de instrumento para algo que eu desejava fazer. O dinheiro só dava para fazer oitenta exemplares. Assim o fiz. Juntei o que fui arrecadando, fazendo a divulgação, como dito acima, mandei rodar mais oitenta. Estou projetando traduzir o livro para o francês – visto que a poesia tradicionalmente é vista como gênero menor, e textos em língua portuguesa encontram resistência no mercado literário internacional. E, pela ótima receptividade, pretendo vê-lo fora do país. Mantive contato com uma editora luso-brasileira e outra suíço-brasileira, no entanto, além de a primeira almejar alterações no projeto gráfico [o que fugiria da proposta inicial] não tenho recursos para a publicação e divulgação na Europa. Aguardo um retorno de uma editora da Argentina para ver o que farei [cansei de dar com a cara na porta das editoras nacionais]. Em suma, é isso; não foi um patrocínio senão uma dádiva de Deus. 

Onde e como as pessoas podem adquirir o livro? 

Tenho feito venda direta. Estou tentando divulgar numa página exclusiva com venda pelo Instagram. [inclusive isso foi tema de um encontro que tive com Patrício] Por ora, além da divulgação corpo a corpo, o WhatsApp tem sido a forma mais efetiva [77 98866-2230] sempre envio pelos correios [custo do livro + despesa de envio]. 


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