O Dia Nacional do Poeta é comemorado em 20 de outubro. Nesta data, em 1976, em São Paulo, surgia o Movimento Poético Nacional, na casa do jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia. Daí em diante, a data ficou marcada como o Dia do Poeta.
O dia 14 de março também é comemorado pelos poetas. É o Dia Nacional da Poesia, em homenagem ao poeta Castro Alves, que nasceu em 14 de março de 1847.
Para ressaltar o Dia do Poeta, Valter Freire, brinda a todos com o “Poema em linha reta” da juventude nos anos 70. Siga!


“Poema em linha reta” da juventude nos anos 70
Naquele tempo o sol queimava menos e
Éramos todos comunistas.
Éramos todos filhos do caos, de paus.
“Quem não sabe a sombra, não sabe a luz”.
Éramos tolos ateus, todos ateus, todos de pouco adeus.
Éramos de fogo, éramos todos apaixonados,
E todas as meninas queriam dar para o Chico Buarque,
Todos os meninos queriam comer a Vera Fischer.
Éramos todos, ou quase todos, maconheiros,
Perplexos, surrados, pré-jeans rasgados, ratos de cineclubes,
Ratos de cinemateca, ratos de botequins.
Éramos todos cachaceiros.
Marcuse, o cacete! Marcuse morreu. Se não morreu, mate-o!
Éramos todos faunos, éramos todos livres, éramos todos presos,
Dentro do apartamento, do quarto, da mente,
Da música, de tudo, do nada.
Éramos todos filhos de Mallarmé, Neruda, Drummond, Rawet, Cabral, Fernando Pessoa, Maiakowski e Bandeira,
E do filé do Lamas.
Éramos todos cantores de “Sem Fantasia”, as meninas cantavam a primeira parte, os meninos a segunda parte, e todos a terceira parte.
Transas, sexo, épicas trepadas com a presença sonora de Pink Floyd, Janis Joplin, David Bowie, Chet Baker e até Roberto Carlos,
Éramos todos apaixonados, éramos momentâneos, éramos terroristas.
E nos muros,
Lerfa Mu. Celecanto causa maremoto.
Éramos da praia, da noite, da lua, do bar do Serafim.
Éramos todos cabeludos.
Éramos todos fumantes.
Éramos todos filhos da realidade.
Éramos todos incompletos na era da perplexidade.
Éramos irmãos no ódio a Salazar, Franco, Papadoupolus, Somoza e Banzer.
Éramos órphãos da patrya que, nus, parira.
Mas também descobrimos a esperança para não morrermos cansados,
Nas viagens, no brilho, nas vertigens, nos vômitos, nas verborreias,
Nas noites insones, nos dias sonoros, dos silêncios, dos grilhões e dos gritos
Que não ficaram parados no ar como falou Guarnieri.
Éramos ontem o que, sobreviventes, somos hoje.
Éramos o quê? Filhos do sonho acabado? Ou pais do hoje?
Mas, ou então,
Elis sempre vai cantar, sempre, sempre, sempre….
Rio de Janeiro, 29/07/2014
Autor: Valterci de Souza Freire
O autor nasceu na Bahia e carioca por adoção, depois de aposentado resolveu escrever sobre suas experiências e vivências adquiridas. Publicou contos no livro “Corolários da Alma” e “Memórias cariocas II”. Publicou também “Três mulheres, distintas” e “Encontros na Rua da Lapa” no Amazon.
Nós, poetas, agradecemos. O texto faz jus à importância da poesia na vida de todos nós.
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Obrigado, Lidia. Sim, a poesia é ver as palavras no cotidiano, no ar, nos passos, a todo momento. E como disse Paulo Cesar Pinheiro, “Ser poeta é difícil demais.. E se couber explicação real. É que o poeta é o coração geral”. Grande abraço, poeta!
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Uma grande homenagem a quem faz poesia. Está de parabéns o Valter Freire,
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Valeu, Yuri. Temos que ver e sentir a poesia. A vida seria triste sem os poetas.
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Valterci, suas palavras me dão saudade de um tempo e de situações que não vivi. Você escreve como se tivesse conversando com o leitor, o que dá um tom tão pessoal ao que se lê, como se todos fôssemos seus amigos daquela época, gerando uma nostalgia à lá Dali daquelas situações, momentos, experiências…
Adoro!!!!
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Parabéns. Se tem algo que o tempo não nos tira é a memória.
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