Há algumas semanas muita gente se manifestou em redes sociais e em outros veículos de comunicação para criticar peruanos que demonstraram atitudes racistas contra Tinga, jogador do Cruzeiro. Até a presidente da República deu suas opiniões no Twitter:
Aqui, no blog, falamos do problema, relatando outros exemplos.
Mas, país cheio de leis que nunca são aplicadas corretamente, por isso, graças ao ineficiente Judiciário e ao Executivo e Legislativo mais preocupados com os conchavos políticos, o Brasil é um dos reis da impunidade. Nesta semana, o Brasil deu exemplo de três, três exemplos de racismo de causar tristeza e desesperança.
No Rio Grande do Sul, na cidade de Bento Gonçalves, em jogo quarta-feira, 5 de março, imbecis torcedores do Esportivo arrasaram com o árbitro Márcio Chagas – leia texto abaixo -; em São Paulo, na quinta-feira, torcedores do Mogi Mirim mostraram toda sua incivilidade e intolerância contra Arouca, jogador do Santos e que já atuou pela Seleção Brasileira. Ainda em São Paulo, as jogadoras do São Francisco do Conde, nesta sexta-feira, sofreram no coração o que é estar diante de pessoas que odeiam as outras por causa da cor da pele. Leia os textos e perceba o quanto essa nação tem de hipocrisia. Há racismo, não adianta autoridades que se submeteram aos caprichos da FIFA e esqueceram que o País tem leis próprias, virem com esse papo maroto de democracia racial.
Recorro mais uma vez ao excelente Cosme Rímoli para mostrar ao mundo o racismo nos estádios brasileiros.

“Macaco imundo. Volta para o circo. Tem de matar essa negrada.” Gritos ao árbitro Márcio Chagas em Bento Gonçalves na quarta-feira. “Macaco, macaco, macaco.” Gritos a Arouca em Mogi Mirim quinta-feira. Só hipócritas fingem não ver o quanto é forte o racismo no futebol brasileiro…
Gritos da torcida em Bento Gonçalves na noite de quarta-feira. O alvo, o árbitro Márcio Chagas da Silva. No estacionamento, seu carro estava riscado amassado a chutes. E com várias bananas em cima. Humilhado, Marcio Chagas tirou fotos da situação vergonhosa. Ao tentar ligar seu carro, ouviu um estouro. Havia outras bananas no escapamento.

O árbitro gaúcho Márcio Chagas da Silva ficou até aliviado ao chegar em casa. Ele realmente pensou que poderia ser espancado em Bento Gonçalves. “Percebi que corria um risco grave, que poderiam ter feito algo muito pior comigo. Não teve nenhuma polêmica no campo, o Esportivo até ganhou (3 a 2). Mesmo assim, torcedores gritavam “preto ladrão” e “volta para a selva” o tempo todo.” Além de ‘tem de matar essa negrada’. A situação aconteceu exatamente três semanas depois do episódio com Tinga.
Muito consciente, o volante do Cruzeiro desabafou. “Todo mundo achou um absurdo o que fizeram comigo. Também vão achar um absurdo o que fizeram com o Márcio. Mas e daí? As punições são brandas, não acontece nada, ninguém leva a culpa. Vai seguir tudo igual.” A sua descrença ao jornal Zero Hora tem razão de ser. O futebol brasileiro é permissivo. Aceita o preconceito racial.
Danilo, do Palmeiras, em 2010, não só chamou Manoel do Atlético Paranaense de ‘macaco’. Ainda cuspiu no seu rosto. Clique aqui ou na imagem e veja o vídeo.
O próprio Luiz Felipe Scolari, técnico da Seleção, errou feio. Como técnico do Palmeiras tentou defender Danilo. Disse que ofensas no gramado são normais, são coisas do jogo. Não são. Essa postura só estimula ainda mais o preconceito racial. Em 2011, o meia do Inter, Zé Roberto, foi humilhado.Vários torcedores do Grêmio imitavam macaco quando ele participava da jogada. A diretoria exigiu punição. Ela não veio. Ainda foi lembrado que a mulher de Zé Roberto também era negra.E acabou obrigada a entrar em um prédio em Porto Alegre pela porta de serviço. Pela cor da sua pele.
Mas muita gente não aceita essa estúpida situação. O árbitro Márcio Chagas prometeu que não vai abaixar a cabeça. “Eu preenchi a súmula, eu vou fazer o boletim de ocorrência ainda, porque não consegui fazer ontem. Fiquei bem abalado emocionalmente e não consegui fazer naquele momento, queria voltar o mais rápido possível para minha residência. Vou entrar em contato com o sindicato dos árbitros, para ver qual procedimento adotar. E esperar o julgamento da Federação Gaúcha de Futebol a esse fato lamentável.”
Ele chorou ao contar a situação para a RBS. “Quando me deparei com meu veículo com as portas amassadas e bananas por cima… banana no cano de descarga, eu fiquei muito decepcionado por ser tratado dessa forma, já que vivemos numa cidade relativamente educada e evoluída. Eu pensei no meu filho. Pensei: “Eu vou dar um beijo no meu filho” e dizer “cara, para ti isso não vai acontecer porque isso é muito ruim, é muito ruim.”
Só que ele mesmo sabe que o que passou não é inédito. Há nove anos ouviu as mesmas ofensas. Na partida entre Encantado e Caxias. O então treinador do Encantado, Danilo Mior, não teve dúvidas. Se aproveitou do clima contra Márcio. “Negrão coitado”, disparou. Foi suspenso apenas por 60 dias.
Só que as ofensas racistas vindas das arquibancadas nunca cessaram. “Isso sempre acontece na Serra Gaúcha. É muito difícil trabalhar lá.” Márcio revela que pensou em abandonar a carreira de árbitro. O que aconteceu na noite de quarta-feira foi além dos seus limites. Pensava só no Brasil racista que seu filho Miguel de dez anos vai encontrar.
A diretoria do Esportivo de Bento Gonçalves tomou uma providência. Não, não descobriu quem colocou as bananas. E nem quem teve fácil acesso ao carro do árbitro no estacionamento. Soltou uma nota oficial dizendo que o juiz alegou ter recebido ofensas racistas. Garantiu que vai investigar e ser contra qualquer atitude de racismo. É assinada pelo seu presidente Luis Delano Lucchese Oselame. A direção sabe que o clube deverá pagar pelos atos absurdos. Mas a punição maior que o Esportivo pode sofrer é ridícula.
Branda demais. O que só estimula novos atos racistas.
“Estou esperando ser publicada a súmula, ver o que consta na súmula. Mas o que consta na imprensa já dá indícios para denunciar o clube no artigo 243-g parágrafo 1º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, sobre racismo. Quando praticada por um considerado número de pessoas, o clube pode perder os pontos de uma vitória, nesse caso, os três pontos da partida. Vou pedir isso.”
Três pontos…
É o máximo que o procurador Alberto Franco poderá conseguir. Assim decreta o CBJD. Talvez se os torcedores racistas tivessem dado uma surra… Ou feito coisa pior com o árbitro a pena fosse maior. A mãe de todas esse atos repugnantes é a impunidade. O futebol brasileiro continua tão hipócrita quanto no início do século passado. Quando jogadores negros eram obrigados a colorir a pele com pó de arroz. Tentar fingir ser brancos para poder entrar em campo.
Dilma Rousseff se disse chocada com o que aconteceu com Tinga no Peru. Prometeu a Copa contra o Racismo. Mas não tem a menor ideia do que se passa por aqui.
Ou os gritos de macacos para Márcio e Arouca são os únicos?
“Macaco, macaco, macaco.” Berravam torcedores do Mogi Mirim quinta-feira à noite. Arouca do Santos era a vítima dos insultos. Duas situações que deixam claro a hipocrisia. O Brasil é sim um país preconceituoso, racista. Que se escandalizou com as ofensas a Tinga no Peru. Quando torcedores do Real Garcilaso imitaram macacos quando Tinga pegavam na bola. Ou quando uma banana foi oferecida a Roberto Carlos na Rússia em 2011. Mas fez questão de se esquecer quando Danilo do Palmeiras, em 2010, destruiu a autoestima e desrespeitou Manoel.
Estádio é interditado após ofensas racistas

Existem efetivamente muitas leis e pouca aplicação das mesmas. Cabe a nós cidadãos cobrar sempre a aplicação e não perdermos a capacidade de indignação. Seja por meio da imprensa, seja junto a família, seja no salão de beleza, barbearia, supermercado etc. não podemos nos calar nunca. Afirmar que não existe racismo chega a ser desonestidade.
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https://twitter.com/FabianoBaldasso/status/442779456063934464
Sobre o jogo do dia 9 de março, GREMIO x Passo Fundo.
Um dos únicos jornalistas do RS com coragem de comentar o racismo recorrente da torcida do Gremio. Pelo menos 15-20 anos de cantos racistas impunes.
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Informação importante.
Comentei no LinkedIn.
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Como é triste comentarmos estes episódios, em que pessoas (?) se acham superiores por terem características étnicas diferentes de outras. É duro ouvirmos, em pleno século XXI e num país mestiço, em que negros e mulatos são os grandes ídolos do futebol, vozes irracionais virem das arquibancadas – numa mesma semana e em diversos lugares do Brasil – com ataques racistas, quase nunca punidos devidamente.
Obs. – Não só Felipão procurou minimizar o racismo dentro de campo, Vanderlei Luxemburgo também assim agiu, quando comentou o comportamento de Antônio Carlos Zago, antigo zagueiro palmeirense, quando, em fim de carreira, jogando pelo Juventude de Caxias, teve atitudes racistas em relação ao atleta Geuvânio, do Grêmio.
Um abração,
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Pois amigo Brown, e ainda tem gente no Brasil que diz: No Brasil não tem preconceito. São hipócritas mesmo.!!!!!!
Abraços,
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