Manuais de redação “proíbem” jornalistas de falar sobre suicídio

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Notícias sobre suicídio foram discutidas por jornalistas durante evento na ESPM
Nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio cresceu 60%, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). A cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo. No Brasil, os casos equivalem a uma ocorrência por hora, mas sabe-se que o número real é muito maior, já que muitas vezes as mortes são relatadas como acidentais. Considerado um problema de saúde pública, por que a imprensa não trata o suicídio como pauta?
A fim de discutir os motivos, a Escola Superior de Progaganda e Marketing (ESPM), em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), reuniu jornalistas nessa segunda-feira, 10. Mediado pelo profissional da Globo e comentarista da CBN, André Trigueiro, o assunto foi discutido pela ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer; pela gerente de Inovação do R7 e comentarista da Record News, Rosana Hermann; pelo apresentador e repórter de polícia da Globo, Valmir Salaro; e pela repórter especial da Folha, Cláudia Collucci. 
Embora a imprensa trate com frequência de pautas que envolvem saúde, o suicídio é constantemente deixado de lado. Trigueiro lembra que o assunto é ausente na maior parte das mídias e que, entre pessoas de 15 a 35 anos, o número de casos aumentou consideravelmente. “São jovens que nem conhecem a vida para dizer que ela não vale a pena”. Para o jornalista da Globo, há um problema grave a ser resolvido, principalmente dentro dos veículos de comunicação. “A informação não circula e os próprios manuais de redação proíbem os profissionais de falar sobre o assunto”.
Certo de que não pode reportar os casos de qualquer maneira, Suzana concordou com Trigueiro e criticou ao dizer que “se for seguir à risca as orientações dos manuais, o profissional não consegue fazer jornalismo”.
A ombudsman da Folha alerta que, evidentemente, nem todo suicídio é notícia, assim como nem todo homicídio é relatado na imprensa, mas acrescenta que, além de casos em que não é possível ignorar – como, por exemplo, se a morte envolver um famoso – é preciso noticiar outras histórias. A reportagem escrita por Eliane Brum, da revista Época, foi lembrada durante o evento. No texto, intitulado “Suicídio.com“, a jornalista fala sobre sites na internet que incentivam adolescentes a se matar e conta a história de Yoñlu, que tirou a própria vida.
Claudia, que escreve na editoria de saúde, atenta para outro ponto: há dificuldades em noticiar o tema, principalmente porque o jornalista fica restrito ao fazer a parte de “serviços” da reportagem. “Como o leitor vai se tratar? Como ele vai procurar ajuda? Não há hospitais, psicólogos e psiquiatras para anteder essas pessoas”.
“Não conheço alguém que, em algum momento, não pensou em se matar. Temos que tratar o assunto como algo que faz parte de nós e olhar para as pessoas que não conseguem resolver sozinhas e precisam de ajuda externa”, disse Rosana. Ela comenta que um local interessante para buscar dados são os seguros, já que muitos não pagam a apólice em caso de suicídio e por isso há investigação dos casos de morte. 
Ainda sobre os problemas internos, Valmir não hesita ao dizer que “para as redações, se matar é proibido”. “Primeiro é preciso discutir isso com os colegas de trabalho pois as pessoas acham que se não falam sobre o tema, logo ele não existe”. O problema não deixa ninguém de fora. Nos últimos 10 anos, Claudia revela que conheceu pelo menos três repórteres que tiraram a própria vida. 
O fato é que, como aponta Trigueiro, o suicídio não está na pauta nos veículos de comunicação. “Temos que buscar informações e entender a realidade que nos cerca e, assim, noticiar. Temos um tema invisível e ele precisa ser tratado”, conclui. Durante o encontro, o jornalista da Globo afirmou que a iniciativa continuará e, nos próximos anos, a mesma data levará o debate para outros estados brasileiros. 
O começo
Criado pela Organização Mundial de Saúde em 2009 e pouco divulgado na mídia, a Cartilha para profissionais da Imprensa traz orientações sobre como abordar o suicídio, “preservando o direito à informação e colaborando para a prevenção”. O material, que pode ser baixado gratuitamente pela internet, apresenta instruções de como noticiar os casos. Entre as dicas estão: evitar chamadas dramáticas ou ênfase no impacto da morte sobre as pessoas próximas; não fornecer detalhes sobre o método letal e nem fotos; evitar termos valorativos, como por exemplo “cometeu” suicídio.
Outro trecho traz exemplos de textos jornalísticos que refletem o tema e uma lista de fontes em que o jornalista pode obter informações.
Por: Nathália Carvalho – do Comunique-se

5 comentários sobre “Manuais de redação “proíbem” jornalistas de falar sobre suicídio

  1. Bonfa, dizem que a indignação é sinal de juventude, mas diante desta história de suicídio incentivado pela internet da matéria de Eliane Brum a partir desse colóquio dos colegas me deixou perplexa. E mais ainda quando procurei no google e encontrei a entrevista fenomanal dada pelo psicologo do garoto Vinícius Gagueiro. Acho que, além de falar deste fenômeno maléfico ele deu a melhor definição sobre a internet e as relações alimentadas por ela. Se você ainda não leu segue o link http://conhecerparaprevenir.blogspot.com.br/2009/08/o-caso-vinicius-em-uma-corajosa.html

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